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Este microbook é uma resenha crítica da obra: The molecule of more
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5564-576-7
Editora: Sextante
A descoberta da dopamina aconteceu em 1957. Inicialmente, foi vista como uma etapa na produção da adrenalina no cérebro. Só que os pesquisadores notaram que seu papel era muito mais importante. A sensação de bem-estar que ela provoca é irresistível. Por isso, deram o nome de “molécula do prazer”.
Seu circuito foi batizado como “sistema de recompensa”. Sua reputação se consolidou ainda mais quando os cientistas descobriram sua relação com as drogas. Quanto maior a atividade nesse sistema, maior o “barato” dos usuários. A molécula acompanha o efeito do entorpecente.
Ela produz um efeito descomunal no comportamento humano. No entanto, essa concepção está mudando. O neurotransmissor não tem só a ver com prazer. Ele dá origem a um sentimento ainda mais potente. Entendê-la é a chave para prever o comportamento humano em ações como:
É mais fácil de estudar ratos do que seres humanos. Para testar a hipótese de que os alimentos estimulam tanto o comportamento quanto as drogas, os cientistas fizeram experimentos com roedores. Eles implantaram eletrodos no cérebro dos bichos, usando-os para medir a produção da molécula.
Depois, fizeram gaiolas com calhas, nas quais colocaram comidas com bolinhas. Os resultados foram os esperados. Quando avistaram a comida, o sistema de recompensa dos roedores se ativou. Isso mostra que as recompensas naturais também estimulam a dopamina.
Em seguida, fizeram algo que não costumavam fazer. Seguiram monitorando o cérebro dos ratos conforme as bolinhas eram inseridas na calha. Eles continuaram a devorar as bolinhas com vontade. No entanto, a presença do neurotransmissor começou a diminuir com o tempo. A atividade da dopamina se esgotou.
A mudança na dopamina dos ratos confundiu os cientistas. A explicação veio de experimentos com macacos. Uma das experiências foi monitorar o cérebro dos primatas e usar um sistema de luzes e caixas para chamar sua atenção. Quando uma lâmpada era acesa, era sinal de que os macacos encontrariam comida na caixa respectiva.
Quando os cientistas ligavam uma outra luz, era sinal de que a comida estava em outra caixa. Os macacos demoraram para entender as regras. Mas depois de um tempo, entenderam os sinais e aprenderam a abrir sempre a caixa certa. Assim, a dopamina deixou de aparecer quando eles descobriam o alimento.
Ela aparecia antes. O fato inesperado não era mais a comida, mas o surgimento de luz. Os cientistas descobriram que a dopamina não tem a ver com prazer, e sim, com a expectativa. É uma reação ao inesperado. A molécula se dispara com uma possibilidade de recompensa, não com ela em si.
Recebemos uma descarga de dopamina diante de surpresas promissoras. É a mensagem da pessoa amada, o email de um amigo que você não vê há muito tempo ou conhecer uma pessoa fascinante na mesa do bar. Se isso se tornar frequente, perde a surpresa. A novidade acaba.
Uma mensagem mais terna da pessoa amada ou um email mais longo do seu amigo não fazem a dopamina voltar. Esse também é o fundamento químico do porquê por trás do esmorecimento do amor. O cérebro é programado para ansiar por boas surpresas. Mesmo o amor, quando se torna familiar, perde o entusiasmo.
Boas e inesperadas notícias acionam a dopamina. Ficamos felizes quando algo é melhor do que achamos que seria. É o erro feliz, quando descobrimos que podemos sair mais cedo do trabalho ou que há mais dinheiro do que pensávamos na conta. É a superação de expectativas, não o prazer em si.
Às vezes, quando conseguimos o que queremos, as coisas não são tão excitantes. A dopamina não dura para sempre. O desconhecido emocionante se torna o cotidiano comum. A expectativa acaba. É o que acontece durante a paixão. Uma pessoa pode ser obcecada pela outra, até que o relacionamento se torne parte da rotina.
Quando não há mais o erro de previsão de recompensa, não há também empolgação. A dopamina se desliga. A paixão nasce na idealização e morre na realidade. Um casal pode se descobrir no meio de rostos anônimos de um bar ou balada. Isso traz a excitação da expectativa sobre o desconhecido. Nasce a fantasia.
No entanto, a dopamina se vai quando o sonho se torna a experiência concreta da vida real. Quando o príncipe encantado se torna um cônjuge sonolento e pouco impressionante, a razão por trás da existência do casal não é mais o neurotransmissor.
A dopamina tem uma função específica. Ela serve para incitar as pessoas a buscarem coisas melhores. Lidamos de forma diferente com o que temos e o que queremos. Desejar um imóvel lhe motiva a trabalhar arduamente para comprá-lo. Você usa um conjunto de circuitos cerebrais diferente dos que usaria para desfrutá-lo.
Prever um aumento de renda ativa a dopamina ligada ao futuro. É diferente da sensação de ganhar mais dinheiro na segunda ou terceira vez. Encontrar o amor também exige um comportamento diferente do usado para mantê-lo. Saímos do que sonhamos para o que teremos que conviver.
Isso não é um problema. O amor precisa mudar. Somos exigidos de forma diferente na idealização e na realidade. É natural que o sentimento também mude. A dopamina também tem seu lado negativo. É o caso do excesso de estímulos. Os cassinos são especialistas em trabalhar com esse mecanismo.
Já passamos da metade do microbook e os autores contam que a novidade não dura para sempre. O romance apaixonado desaparecerá mais cedo ou mais tarde. Então, teremos que fazer uma escolha. Podemos fazer uma transição para o amor, alimentada pelo nosso apreço, ou podemos buscar outra montanha-russa.
Optar pela dopamina é o caminho mais fácil. Mas o efeito passa rápido. É como o prazer ao comer um bombom. O amor duradouro muda o prazer da expectativa para o da experiência. Exige que troquemos a fantasia delirante pela responsabilidade do cotidiano. Não é algo simples. Essa é uma explicação para o término.
Para a dopamina, conseguir é mais importante do que ter. Se você é um sem-teto, a dopamina lhe faz querer um barraco. Caso já esteja em um, lhe faz desejar uma casa. Se estiver em uma, lhe faz almejar uma mansão. O neurotransmissor não tem linha de chegada.
Os circuitos da dopamina se ativam com a possibilidade do novo. Não importa se o que já existe é bom o suficiente. Há sempre a sensação de “quero mais”. A dopamina é um gatilho para o amor e alimenta o que vem depois. Só que isso exige que sua natureza mude.
Afinal, a sinfonia química que a alimenta também se altera. A dopamina é a molécula da antecipação, não do prazer. Para podermos desfrutar do que temos, a coleção de neurotransmissores em atividade é outra. São moléculas como:
Esses compostos dão prazer por sensações e emoções.
A paixão dura só alguns meses. Depois, os casais precisam de um tipo diferente de ligação. É o caso do “amor companheiro". Ele é mediado por esses neurotransmissores e foca no que está acontecendo. É o que nos faz aproveitar os momentos em casal e os pequenos prazeres
A confusão entre desejo e gosto é comum. Só que são coisas diferentes. Uma pessoa pode querer algo de que não gosta. Não somos seres perfeitamente racionais. Podemos desejar até algo que pode destruir nossas vidas. É o caso das drogas ou jogos de azar.
O circuito da dopamina é poderoso. Ele arrebata a atenção, a motivação e as emoções. Tem grande influência sobre o que fazemos. No entanto, não é infalível. Se fosse, as pessoas não fariam dietas ou exercícios físicos. A questão é que só a dopamina se opõe a si própria.
Para barrá-la, precisamos de dopamina no sentido oposto. Esse é o “circuito de dopamina de controle”. Os sistemas cerebrais precisam de forças que se opõem porque é o que faz com que seja mais fácil de controlar. É por isso que carros têm acelerador e freio. É também o que faz com que o cérebro tenha circuitos se opondo.
Não basta imaginar o futuro. Para concretizar uma ideia, precisamos lutar contra a intransigência do mundo. As experiências serão frustrantes. Precisamos de tenacidade. Só que a capacidade de fazer esforço também depende da dopamina. Quanto maior a presença do neurotransmissor, mais alta é a disposição para lutar por aquilo que se quer.
O esforço é dopaminérgico. Pode ter relação com vários fatores, mas, sem dopamina, sequer existe. Para fazer com que algo dê certo, precisamos primeiro acreditar que ele seja possível. É o que influencia nossa tenacidade. Os programas de emagrecimento são projetados para que você perca 3 a 4 quilos nas primeiras semanas.
Seus criadores sabem que se você não perder peso, deixará de acreditar que pode emagrecer. Por isso, desistirá. Esse é o conceito de autoeficácia, a crença de que podemos realizar aquilo que propomos fazer. Uma das consequências da descarga de dopamina provocada pelas drogas, por exemplo, é o aumento da autoeficácia.
A dopamina nos faz imaginar, criar estratégias e planejar o futuro. Às vezes, isso depende de fazer associações incomuns, o que aprimora nossa capacidade criativa. É por isso que artistas, escritores e músicos têm um cérebro cheio do neurotransmissor. Isso lhes permite pensar de formas pouco convencionais.
Só que quando a dopamina sai do controle, há riscos. Alguns tipos de psicose, como a esquizofrenia, têm uma neurobiologia com níveis altos da molécula. A razão é o conceito psicológico de “proeminência”. É o grau em que vemos as coisas como pessoalmente importantes para nós.
Só que a dopamina é boa em aumentar nossos níveis de proeminência. Quando há um mau funcionamento da dopamina, tudo parece importante. Essa é a base da esquizofrenia. Quando o mecanismo de saliência disfuncional dispara, a mente entra em delírio.
A dopamina é o que dá origem aos desejos, à criatividade e à tenacidade. Ajuda a definir nossa identidade. É a substância química cerebral que mais identificamos. A sociedade incentiva um modo de vida movido por ela. Somos ensinados a sempre querer mais.
Há sempre mais uma conquista, um entretenimento ou um produto. A velocidade do nosso consumo criou um problema ambiental global. Somos induzidos a trabalhar incansavelmente para consumir de forma frívola. Por isso, a felicidade é o equilíbrio entre a dopamina e outros neurotransmissores, orientados ao presente.
É o caso da serotonina, da oxitocina, das endorfinas e dos endocanabinoides. Para que seja possível fazer isso, precisamos abandonar a roda de hamster da dopamina e fazer esforço para alcançar um prazer mais sereno. Quando nos dedicamos à música, aos esportes, à culinária ou ao trabalho manual, combinamos os dois tipos de neurotransmissor.
“Dopamina” usa experimentos científicos como referência para explicar o funcionamento do nosso sistema de recompensa, mostrando a importância dos pequenos prazeres e de fugir da busca dopaminérgica por idealizações.
O excesso de dopamina também tem relação com vícios. Em “Nação dopamina”, a psiquiatra Anna Lembke mostra como a busca desenfreada pela felicidade leva as pessoas a se afastar dela, graças ao excesso do neurotransmissor. Disponível no 12 min.
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